quarta-feira, 11 de outubro de 2017

As nossas opiniões

Com essas idas e voltas entre dois mundos, compartilhando experiências e narrativas, eu fico cada vez mais preocupada ao perceber a facilidade com que se constrói uma opinião. Nada mais fácil, aliás, do que ter uma opinião sobre algo. Não é preciso nenhum conhecimento prévio para inventar ou adotar uma ideia e ainda defendê-la nas redes sociais, num boteco ou na imprensa. Pior: em geral, quanto mais desinformada a pessoa, mais formada a opinião.
Meu Tio Santiago sempre disse: quem viveu um dia num país escreve um livro, quem viveu uma semana escreve um capítulo, quem viveu um mês escreve uma frase... quem viveu mais de um ano já não escreve nada. Eu diria que quem nunca saiu de casa escreve enciclopédia.
Aqui na França, muita gente, inclusive de esquerda, expõe sua opinião sobre a política do Brasil, com a certeza de que a Dilma foi afastada por corrupção, que a prisão do Lula é um pedido popular, que a mídia brasileira é livre e a justiça imparcial. Costumo responder (depois de respirar fundo) que a situação é um tantinho mais complexa...
No Brasil também, já passei noites inteiras discutindo sobre a Europa e, em especial, sobre a questão do terrorismo islâmico, me deparando muitas vezes com uma visão meio estereotipada dos "árabes" e das "periferias" francesas. Bom lembrar que o islam é uma religião com várias correntes (inimigas), abrangendo centenas de países, etnias, idiomas, pensamentos, práticas, e classes sociais das mais ricas às mais pobres do mundo. Também me parece arriscado atrever-se numa leitura das sociedades europeias com referências sul-americanas.
É que as coisas não são triviais. Nenhuma matéria jornalística, nenhum vídeo, nenhum livro poderia relatar de maneira minimamente ampla essas problemáticas.
Só nos resta opinar a toa... Ou então moderar o nosso discurso e aceitar certos limites.
Ou mais difícil: adotar uma atitude.
Porque o mundo não precisa de tantas opiniões (já tem muitas!): ele precisa de ações.
Ações locais, humanas, concretas, humildes, fortes. Cada um fazendo sua parte.
Esperando e confiando em que outras pessoas também estejam fazendo sua parte em outros lugares, interferindo com uma realidade que é delas e que elas conhecem melhor do que nós.
Bora?

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